Mensagem do Grupo de Discussão Competitive Knowledge
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A "Teoria dos Enxames" é uma boa fonte de insights
sobre corporações e sistemas complexos. Creio que
pode ser usada para fomentar interessantes e divertidas
discussões (Quem seria a "rainha" de nossas empresas?
No caso da HP deve ser a Carly Fiorina!).
No entanto, é preciso muito cuidado com esse tipo de
teoria que pretende fazer paralelos entre sistemas
de natureza muito diferente. Há certas similaridades
entre colônias de formigas e empresas, mas há também
muita coisa diferente. O perigo ocorre principalmente
quando se tenta usar as similaridades como justificativa
para comparar coisas que são essencialmente diferentes.
Listo a seguir alguns comentários sobre o documento que
o Freud disponibilizou.
Abraços a todos,
Sergio Navega.
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Alguns comentários críticos à entrevista de Chris Meyer
disponível em:
http://groups.yahoo.com/group/competitive-knowledge/files/Intelig%80%A0%A0%E
Ancia%20dos%20Enxames
Regras simples e eficazes
Procurar simplicidade e eficácia é ótimo. Aquilo que é
simples tem menos chance de dar errado, além de ser mais
facilmente aprendido por novatos. No entanto, a comparação
que se faz entre colônias de formigas dentro de um formigueiro
e colônias de funcionários em uma empresa pode ser problemática
por várias razões. Uma delas é justamente a questão da
simplicidade: formigas dispõe de muito de seu comportamento
definido por questões evolucionistas. Há muita coisa "hard-wired"
nas formigas, que dispõe de um sistema nervoso central
bastante simplificado. Por isso, as formigas não aprendem muito.
Entretanto, humanos aprendem muito, e grande parte de seu
comportamento é função de características culturais que são
aprendidas (e esquecidas, reaprendidas...). Por isso,
são sistemas que guardam grandes diferenças em nível básico,
a ponto de quase serem incomparáveis.
Trabalho em grupo, auto-organização
É certo que tanto formigas quanto humanos propiciam a formação
de sistemas que atuam de forma adaptativa e colaborativa, com
grande tendência à auto-organização. A flexibilidade nesses
sistemas pode certamente determinar o tipo de sucesso ou fracasso
do grupo. Mas a analogia começa a ficar fraca quando observamos
os sistemas naquilo que eles têm de diferente. Uma formiga não
consegue ter uma visão da evolução global do formigueiro, pois
não possui um cérebro cognitivo. Já um funcionário humano
consegue ter essa visão (embora muitos não tenham, mas isso
é uma falha de formação). Isso afeta sensivelmente o tipo de
propriedades que emergem desse sistema, a ponto de torná-los,
novamente, incomparáveis.
Cognição afeta tudo
Olhando de muito longe, tanto grupos de formigas quanto grupos
de pessoas vão aparentar estar sob leis de organização similares.
Mas justamente por disporem de capacidades cognitivas tão díspares,
há diferenças essenciais. As formigas têm seus sistemas
determinados e alterados através dos princípios fundamentais
da evolução biológica. Um comportamento que pareça "inteligente"
em uma formiga demonstra apenas uma complexidade genética/bioquímica
que levou milhões de anos para ser refinada. Já companhias
feitas de pessoas inteligentes têm condição de estabelecer novos
formatos de ligação social que transformam esse sistema em
algo muito mais dinâmico do que o das formigas. Só como comparação,
em cinquenta anos o meio empresarial saiu da "produção em série
local" para a "globalização, terceirização e competição
generalizada".
Uma mudança tão radical quanto essa em um formigueiro provavelmente
levaria todas à extinção, pois elas levariam centenas de
milhares de anos para evoluir a ponto de sobreviver. E esta é,
na verdade, uma diferença fundamental: formigas "querem" apenas
sobreviver e reproduzir. Nós queremos mais do que isso! Queremos
aprender, crescer como pessoas, colaborar com a comunidade em
que vivemos, queremos a auto-realização. As pessoas alteram
totalmente a dinâmica de uma corporação somente por força de
terem objetivos pessoais sem paralelo com formigas. Portanto,
o que entra em cena aqui não é tanto a dinâmica de sistemas
complexos (sistemas formados por grande quantidade de elementos
cujas regras são simples), mas sim a dinâmica de sistemas caóticos
e intencionalmente colaborativos, e ainda por cima com
racionalidade (embora, como já foi demonstrado por alguns teóricos,
de forma limitada).
Aprendizado pela "rainha"
A introdução do exemplo da BMW é sugestivo, mas creio que erra
o alvo. Uma "rainha" que aprenda através da experiência de suas
formigas e depois repassa a experiência às outras não tem paralelo
no que poderá ser o futuro da robótica e da inteligência artificial
distribuída. Um veículo rodando em Boston vai ter problemas
relacionados à neve, que não tem sentido para um veículo
rodando na Flórida. É extremamente complexo fazer um "aprendizado
distribuído" como sugerido por Chris, pois muitas vezes o
aprendizado de situações complexas é incerto, inadequado e sujeito
a frequentes revisões, que só podem ser feitas por quem está
"vivendo" a situação. Se o aprendizado de um (ou alguns) veículos
fosse transmitido a todos os outros veículos, teriamos uma horda
de carros descontrolados em nossas estradas (e um mercado de
carros antigos muito saudável).
A questão dos "spin-offs"
Chris coloca que "spin-offs" são mais "naturais" do que fusão.
É difícil compreender como ele pode justificar isso. Se usarmos
a analogia que ele apresenta (da ameba que tem várias direções a
seguir) podemos sim fazer uma analogia adequada. Entretanto, é
possível achar outra analogia biológica que diz exatamente o
oposto: quando há 1,4 bilhão de anos um grupo de procariotes
(seres unicelulares, sem organelas) se juntou para formar os
primeiros eucariotes (seres ainda unicelulares, mas com organelas
internas, similares às mitocôndrias/cloroplastos) o que ocorreu
foi a formação de uma fusão. E deu certo! Depois, 700 milhões
de anos atrás foi iniciada a formação de organismos multicelulares,
dos quais somos nós, talvez, o exemplo mais complexo. Isso também
é uma fusão bem sucedida. Por isso, o ponto de Chris de defender
os spin-offs em vez de fusões não pode ser suportado com essas
analogias biológicas.
Concluindo
A crítica mais significativa que levanto contra as idéias dos
enxames não é em relação às analogias que foram usadas. Minha
crítica é relativa ao fato de se tentar usar essas analogias
não apenas com finalidade didática, mas sim como *justificativa*
para implementar esta ou aquela política ou estratégia corporativa.
Analogias são muito úteis quando queremos explicar um sistema
a alguma pessoa. São, portanto, recursos didáticos. Mas elas,
em geral, *não servem* como justificativa para acreditar que
as coisas devem ser assim. Ainda mais quando é possível achar
analogias igualmente plausíveis, mas que indicam conclusões
opostas. Os "gurus" deveriam estudar como os cientistas
trabalham. Eles deveriam se preocupar um pouco mais em
desenvolver teorias que se apóiem em modelos e hipóteses
empiricamente confirmáveis.
Sergio Navega.
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