Mensagem do Grupo de Discussão Competitive Knowledge
Participe deste grupo através da página http://groups.yahoo.com/group/competitive-knowledge/
[A mensagem original de Ricardo Oliveira descrevendo a sua
experiência com um grupo de motoqueiros está no final desta mensagem]
Ótimo tema para discussão. Fica apenas a questão "O que se pode
fazer para promover uma auto-gestão espontânea?". Só tenho
palpites.
Um dos pontos que levanto está relacionado a tradicional guerra entre
especialistas e generalistas. Há muito tempo vêm se privilegiando
os primeiros, aqueles que tem especialização em 'X', mas não sabem
muito sobre 'Y'. Sou um dos que luta pela idéia do generalismo.
Isto significa que sou um dos que luta por uma dispersão de
capacidades entre as pessoas de uma equipe ou departamento. O
resultado disso é, acredito, uma situação que permite o tipo de
organização espontânea como a que ocorreu com o grupo de motoqueiros.
Dentro de equipes ou departamentos, é preciso eliminar (tanto quanto
possível) a figura do especialista. Especialista é aquele cara que
tem um salário maior para fazer algo que só ele sabe fazer. É
aquele "especialista em tributação de insumos importados pela
medida Cacex 32434".
Obviamente, ele não tem nenhum interesse em compartilhar o conhecimento
que dispõe. Esse sujeito é um obstáculo à gestão do conhecimento e é
um dos fatores que podem provocar diversos tipos de problemas (por
exemplo, quando sai da empresa, quando exige um aumento de salário
astronômico, quando não faz seu trabalho direito, quando não dá conta
por excesso de demanda, etc.).
Já o generalista não se importa em explicar as coisas para os novatos.
E por que não? Porque ao explicar as coisas para um novato ele estaria
*reduzindo* a sua carga de trabalho, o que o permitiria atacar outros
problemas, ou simplesmente ter um pouco mais de tempo livre. Assim, o
generalista atua no sentido de disseminar o conhecimento de que
dispõe, espalhando-o pela empresa. Se essa pessoa tiver como
registrar esse conhecimento, então ele vai ter todo interesse em
"empurrar" a engrenagem do GC para frente.
Voltamos às motos. No grupo, há uma auto-organização que é derivada
do espontâneo reposicionamento das partes. O comportamento do grupo
pode ser complexo, mas esse comportamento é algo que "brota"
espontaneamente da atividade de cada parte. O grupo fica em fila
indiana sozinho, ao ser colocado em uma situação especial. Imagine
tentar coordenar de forma centralizada e com precisão a movimentação
de cada parte para obter a fila indiana: não iria funcionar.
Quando um dos motoqueiros apresenta uma especialidade particular
(como experiência no tráfego sob neblina) ele assume a dianteira e
resolve o problema. Em uma empresa voltada à disseminação de
conhecimento, esse motoqueiro deveria ter algum incentivo para
explicar aos outros o que ele está fazendo para resolver o
problema. Ao final da viagem, você já não teria um "especialista
em neblina", mas sim um grupo de generalistas que conseguem
ter maior eficácia em vários tipos de clima.
Isso é um sistema dinâmico e complexo, similar ao vôo coordenado
de pássaros. Uma revoada deles têm esse caráter de auto-organização
e generalidade. Em uma empresa, ser generalista implica não apenas
em conhecer muito dos processos e regras próprios do negócio, mas
significa também em ter *capacidades* gerais. Um generalista precisa
ser criativo. Mas não só isso: precisa saber decidir racionalmente,
precisa ter pensamento crítico, precisa saber colaborar, precisa
saber ler, escrever e argumentar bem. São essas algumas das capacidades
que acho que deveriam ser desenvolvidas nos "motoqueiros" de
nossas empresas.
Até mais,
Sergio Navega.
-----Original Message-----
From: RICARDO OLIVEIRA PEREIRA <rpereira@utp.br>
To: Competitive-Knowledge (Correio eletrônico)
<competitive-knowledge@yahoogroups.com>
Date: Segunda-feira, 28 de Maio de 2001 15:28
Subject: [competitive-knowledge] Equipes auogerenciáveis e motocicletas
>
> Passeio de motocicleta e as equipes autogerenciáveis
>
> Uma palestra assistida no 3º TECplus da Universidade Tuiuti do Paraná sobre
> o sistema de produção de uma empresa de Curitiba apresentou seu
> funcionamento baseado em equipes autogerenciáveis, onde houve um ganho
> significativo em termos de qualidade e produtividade. O conceito ficou na
> minha mente como um assunto a ser aprofundado e aproveitado na Gestão do
> Conhecimento.
> Durante o sábado reuni-me com alguns amigos para um passeio de motocicleta
> até a praia de Guaratuba no litoral do Paraná onde aconteceria um encontro
> de motociclistas. Minha experiência em viagens com motocicleta se limitava a
> passeios com somente um companheiro, ou seja, duas motocicletas.
> Neste passeio reuniram-se 5 motos, uma de 650 cilindradas, uma de 600cc,
> duas de 350cc e a minha de 250cc, a menor delas. Fui o agente para a reunião
> do grupo pois alguns eram alunos e outros colegas professores, todos com
> diferentes experiências em viagens deste tipo. O único critério para
> participação no grupo era querer viajar e possuir uma motocicleta.
> Durante o percurso, talvez por mania de professor, comecei a observar o
> comportamento do grupo. Eis algumas observações;
> O grupo se reuniu com um objetivo, chegar a Guaratuba com todos os membros
> do grupo;
> Em uma cidade próxima, juntou-se ao grupo mais um motociclista que
> rapidamente foi aceito e se integrou ao grupo;
> Ninguém do grupo foi eleito como líder, ou seja, o motociclista que seguiria
> na frente, esta liderança se alternou durante a viagem independente do
> tamanho da motocicleta ou da experiência em viagens, sendo neste caso
> observada uma liderança bastante situacional;
> De tempos em tempos o líder se deslocava para o final do grupo, cedendo seu
> lugar a outro motociclista e permitindo a passagem de todos para uma
> verificação do grupo;
> A velocidade de cruzeiro foi estabelecida pela menor motocicleta, neste caso
> a minha, e o grupo todo viajou nesta velocidade;
> No trecho de estrada mais problemático, pista simples e com maior movimento,
> o grupo se alinhou, em fila indiana, sem que nada estivesse combinado e a
> velocidade foi mais reduzida ainda;
> No retorno, sobre forte neblina, a experiência de um dos membros predominou
> pois nestas condições ele já havia viajado muitas vezes;
> Uma sinalização foi combinada em uma das paradas, para que ninguém do grupo
> ficasse perdido ou se desviasse do caminho.
> O objetivo também havia sido estabelecido antes do início da jornada de
> volta, retornar a Curitiba.
> Os objetivos foram atingidos e todos acrescentamos algo mais a nosso
> conhecimento sobre o assunto, viagens de motocicletas.
>
> Pelo conceito aprendido na palestra, identifiquei nosso grupo de viagem como
> uma equipe autogerenciável pois, uma vez estabelecido o objetivo todos se
> esforçaram para alcança-lo, não individualmente, mas sim como um grupo. As
> características pessoais e dos equipamentos foram respeitadas por todos, não
> havendo qualquer tipo de reclamação ou constrangimento.
> Seria muito interessante se os grupos dentro das empresas funcionassem
> também desta forma, uma vez estabelecido o objetivo, todos se esforçarão
> para atingi-lo, em alguns casos puxando os mais lentos, em outros se
> adaptando as condições ambientais.
> Ficam então algumas perguntas:
>
> Seria possível ensinar isto para as pessoas?
> Como faze-lo?
> Como convencer os funcionários das organizações de que os objetivos são de
> todos e não individuais?
> Quais seriam as ações mais recomendadas para mostrar as pessoas que dividir
> o conhecimento não custa nada e colabora com a organização?
> Qual a razão de estes comportamentos parecerem tão naturais em nossa vida
> pessoal e não ocorrerem na vida profissional?
>
> Sei que a mensagem parece meio "Off Topic" mas acredito que são destas
> observações e questões que aprendemos a gerenciar melhor.
>
> Abraços
> Ricardo Oliveira Pereira
> http://www4.sul.com.br/rpereira
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