Mensagem do Grupo de Discussão Ciência Cognitiva
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From: Joao Teixeira <jteixe@zaz.com.br>
> Por fim, se o beh. radical esta longe de explicar muitas caracteristicas da
> linguagem humana, o mesmo se aplica a teoria chomskyana. Quantas regras da
> gramatica universal este senhor ja explicitou? Perguntem aos linguistas
> profissionais o que eles pensam atualmente da gramatica
> gerativo-transformacional. Parece-me uma abordagem completamente *abstrata*
> da linguagem humana, formal, isolada do meio. Sem nenhuma dimensao
> pragmatica. Agora leiam o "Verbal Behavior" e me digam, se pelo menos esta
> dimensao, pragmatica e contextual da linguagem foi deixada de fora...
> Abracos, continuo entusiasmado com esta discussao que me parece
> interessante e importante.
Concordo que a linguagem humana ainda é pedra no sapato de praticamente
todos. Em particular, acho que os chomskyanos ainda não perceberam
que estão em um bote cheio de furos (já dá para ouvir alguns
chomskyanos fazendo glub, glub).
Mas o approach que eu considero mais promissor na explicação
da linguagem toma elementos que só podem ser vistos sob uma ótica
(e posição) diferentes. Em vez de observar linguagem essencialmente
por dentro de um organismo (como fazem os cognitivistas puros e
chomskyanos) ou como mudança comportamental devido a estímulos (como
fazem os behavioristas) a análise mais promissora, em minha opinião,
vê a linguagem sob o ponto de vista de "fora", ou seja, como um
"organismo" autonomo sendo moldado por força da ação de diversos
agentes inteligentes.
Este não é exatamente o enfoque Maturana/Varela, mas uma formalização
que leva em conta a ação de agentes em um ambiente regido pelos
ditames evolucionistas. Jeff Elman propõe a linguagem como um
sistema dinâmico, Luc Steels vê linguagem como resultante dessa
ação de agentes colaborativos, e Simon Kirby (Univ. Edinburgh)
toma o caminho exatamente *oposto* ao de Steven Pinker.
Pinker diz que linguagem é uma construção que reside na mente
dos humanos e que lá foi inscrita por seleção natural. Somente
neste último aspecto ele é contrário a Chomsky, que parece ser
um opositor a interpretações evolucionistas.
Entretanto, há várias formas de levantar dúvidas sobre Pinker.
Kirby consegue enxergar o processo de outro ângulo. Neste, a
linguagem é uma "entidade" abstrata que "reside" no meio
ambiente e que foi gradativamente sendo moldada pela força da
utilização de seus recursos por entidades inteligentes e cheias
de propósito (em relação à comunicação).
Assim, enquanto Pinker supõe que nosso cérebro foi "alterado"
pela evolução para comportar a linguagem, Kirby e outros
vêem a linguagem sendo moldada gradativamente para que caiba
"dentro" das possibilidades cognitivas *que os hominídeos já
tinham*. Nada de novo é necessário neste processo, somente
capacidade mental de compreensão de sintaxe elaborada e
hierarquicamente extensa.
Acho isto muito mais razoável para explicar o aparecimento
da linguagem simbólica em menos de 100.000 anos, a partir
dos antecessores do Homo Sapiens Sapiens. O argumento de
Pinker precisaria de uma *imensa* pressão evolucionista para
"cortar fora" todas as vertentes de humanos que não tinham
o "módulo linguístico". Não acredito que possa haver tal
pressão em tão pouco tempo (afinal, há dezenas de espécies
de primatas próximas ao homem *sem* linguagem). Somente
pressões de adaptação climática muito brusca podem
influenciar alterações genéticas (via seleção natural)
tão rápidas.
Se reunirmos essas idéias com recentes propostas da neurociência
(inclusive relatos de Arbib e outros sobre a relação entre
linguagem e controle motor), veremos que é mais razoável
supor que linguagem é um "efeito emergente" de uma
capacidade mental nossa *não específica* e de um meio
ambiente capaz de acumular e transportar cultura,
conhecimento simbólico e fonológico de uma geração a outra.
Até mais,
Sergio Navega.
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