Mensagem do Grupo de Discussão Ciência Cognitiva
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Ciência Cognitiva - http://sites.uol.com.br/luzardo
From: Joaquim Rosa Neto <JOAQUIMRN@TCU.gov.br>
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Caros integrantes da Lista,
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> meu nome é Joaquim Rosa Neto e
me considero afortunado em ter
> descoberto esta lista que se propõe discutir Ciência Cognitiva em tão alto
> nível, embora tenha muito mais a aprender do que a oferecer, já que sou
> ainda iniciante no assunto.
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>
Mesmo assim gostaria de lançar uma questão filosófica -caso
> os colegas considerem pertinente à discussão- que me surgiu quando li Steven
> Pinker (Como a mente funciona). Ao propor o autor um modelo cognitivo,
> segundo duas teorias básicas: teoria computacional da mente e a teoria da
> seleção natural dos replicadores, expõe de modo claro que toda elaboração
> biológica é "tutelada" por um "imperativo" fundamental, que no
seu entender
> seria a replicação genética: todas as mutações dos seres vivos que
> resultaram no aprimoramento replicativo prevaleceram, incluindo a própria
> competência cognitiva humana.
>
>
Exposto isso, penso que se está contrariando uma concepção
> básica da teoria evolucionista de Darwin, que seria a subsunção do fenômeno
> da vida aos princípios da aleatoriedade e da transição. Pinker, todavia, e
> ao meu ver, com muita propriedade, declara a existência de um princípio
> diretivo à vida, não em termos progressivos, no sentido de superação
> positiva das espécies aos longo do tempo, mas sim de que existe um "comando
> basilar" difusamente compreendido em nível genético a determinar que todas
> as estruturas físico-mentais se justificam, tão-somente, para o sucesso
> replicativo (muitos exemplos são dados por ele para revelar este propósito,
> fazendo menção, inclusive, à obra de Richard Dawkins The selfish gene).
>
> Aceitando-se o argumento, impõe-se a questão referida no início, a
> qual debito à argúcia do Prof. Oswaldo Porchat do Dpto. de Filosofia da USP:
> Como admitir-se a existência de um princípio diretivo ao fenômeno da vida
> prescindindo-se de uma concepção criacionista? Ou seja, para o professor a
> assunção de uma "diretividade" na vida implica na aceitação de um
"criador",
> o que fragilizaria todo o argumento pinkeriano.
>
> Enfim, coloco esta questão como fruto de uma interpretação pessoal
> da obra citada.
>
Joaquim,
O que você coloca para discussão é intrigante e está bem no meio de
uma das "frentes" de batalha do momento. Pinker é um dos expoentes da
chamada "psicologia evolucionista" (Evolutionary Psychology), que dispõe
de uma série de explicações bem razoáveis para diversas características
humanas.
Entretanto, o que está sendo contestado é: até que ponto pode-se levar
a psicologia evolucionista sem atropelar o bom senso. Gosto muito dessa
matéria mas tenho minha dose de críticas. Uma delas é justamente
relativa ao assunto que você levanta.
A "diretividade" que você menciona implicaria em intencionalidade e
daí a necessidade de se ter um criador, que colocaria por terra alguns
dos argumentos darwinianos. Não acho razoável pensar em diretividade.
Falando de outra forma, pegue qualquer adulto deste final de século.
Quanto desse adulto podemos dizer que é resultado de mecanismos
evolutivos? Eu diria 100%, incluindo cognição. Entretanto, quanto é
devido a mecanismos de transferência puramente genéticos? Eu diria
muito menos do que 100% (não me arrisco a chutar quanto). Que quero
dizer com isso?
Acho que um dos problemas de Pinker é achar que evolução darwiniana
é um processo que só pode ocorrer por força de alterações diretas
nos genes. Há que se lembrar que muito é condicionado pelo ambiente.
O meio ambiente pode "armazenar" certas características que
transcendem a mera transmissão genética. Cultura, por exemplo, não
está nos genes, está em uma sociedade. E cultura afeta profundamente
a vida das pessoas contemporaneas dela. Isto faz um organismo ter
um desempenho profundamente diferente por causa de forças que vão
além da mera transmissão genética, pois ele incorpora características
do meio ambiente em sua vida. Creio que linguagem é uma dessas
características.
Essa idéia de um "novo fator" (além do genético) na evolução veio de
Baldwin, que propôs isso há cerca de 1 século para substituir as
idéias de Lamarck (de alteração genética a partir das adaptações
em vida de um organismo). Com o Lamarckismo desacreditado, era
preciso encontrar algo mais para explicar coisas que a recombinação
genética tinha dificuldades em explicar. Considero o efeito
Baldwin um dos mais importantes elementos desta história.
Então, para voltar ao assunto de sua questão, pode haver habilidades
cognitivas que "ficaram" nos humanos mesmo que não devessem ter ficado.
Não por causa de seleção sobre os genes, mas sim por causa da pressão
do meio ambiente para que ficassem. Uma grande parcela da população
mundial de hoje vai a escola e se não vai, pelo menos tem contato com
pessoas que falam, ensinam habilidades, mostram técnicas, etc.
As habilidades cognitivas para "processar" essas características
cognitivas permanecem porque a sociedade humana está constantemente
"empurrando" essas estratégias para os seus filhos. Não através dos
genes, mas através da sociedade.
Sergio Navega
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