Mensagem do Grupo de Discussão Ciência Cognitiva
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Ciência Cognitiva - http://sites.uol.com.br/luzardo
From: Nasson Paulo Sales Neves <nasson@fapeal.br>
>
>Interessante o comentário do Sérgio Navega sobre memória
>
>> A memória humana não parece ser realmente associada ao tradicional
>> modelo address/retrieval. Não haveria espaço para "armazenar" todas
as
>> vivências sensoriais que temos em um único dia. Em minha opinião, a
>> coisa toda tem muito mais a ver com elementos perceptuais,
>> reconhecimento de padrões estruturados de forma hierárquica. É isso
>> que aparenta estar "memorizado" e é exatamente isso (a profundidade
>> e eficácia dos mecanismos perceptuais) um dos componentes fundamentais
>> da inteligência nos cérebros animais.
>
>Mas, como eu trabalho com multimídia, na produção de cd-rom, estudo a memória
>para poder trabalhar com as informações que vão entrar no cd. E uma coisa que
>eu percebo, é que quando você faz a pessoa ter alguma tipo de emoção ao clicar
>em um botão (uma animação, um som legal, etc.), ou uma surpresa ao passar por
>uma tela, a pessoa grava mais a informação. É como se só o fato da memória não
>tivesse tanto valor sem ter uma carga emocional para poder fixá-la. Não teria a
>emoção também a ver com a capacidade de memorização e recuperação de
>informações no cérebro?
>
>Ah, Sérgio, você poderia comentar alguma coisa sobre procedimentos mnemônicos?
>
Com certeza o grau de emoção despertado por uma informação vai influenciar
o potencial de ser fixado ou não na memória do usuário. Mas isso é um
dos aspectos de um princípio mais fundamental. A questão se prende às
coisas que se repetem e as coisas que são caóticas. Vamos ver se consigo
me explicar.
A função primeira de um organismo inteligente, de acordo com meu entender,
está ligada à percepção de padrões. Perceber padrões implica em perceber
coisas que se repetem. Se você sai de casa um dia e vê um gato preto do
outro lado da rua, não vai levar em conta isso como significativo. No
entanto, se esse mesmo gato estiver lá nos dias seguintes, você vai
começar a ficar "encucado". Vai começar a procurar "explicações"
para
a presença do gato lá, vai se preocupar. A regularidade lhe chamou a
atenção, ativou sua habilidade de perceber *conscientemente* um evento
que, a princípio, é insignificante (e só era percebido pelo inconsciente).
Agora imagine que durante 1 mês você todo dia encontra o gato lá. Depois
desse tempo todo, você já se acostumou com o evento (ainda mais se tiver
sido bem sucedido em achar uma "explicação" para isso). Vai sair de
casa sem se importar com o gato lá. Novamente, o seu consciente não
reparará nisso (mas seu inconsciente ainda repara). Agora imagine
que um belo dia você sai de sua casa no horário de sempre e não encontra
mais o gato lá: novamente esse evento vai lhe chamar a atenção. Um
evento que *era regular* deixou repentinamente de sê-lo e isso atraiu
sua atenção. Novamente, você irá começar a conjecturar o que pode ter
acontecido.
Voltando à questão que você colocou: o primeiro passo para favorecer
a armazenagem de alguma informação é usar esse princípio de
regular/caótico. Se algo em sua interface visual acontece sempre da
mesma forma (cor, som, movimento, forma) no momento em que você quiser
enfatizar algo, mude a regularidade. Ou, em outro caso, se a interface
é toda cheia de "irregularidades", quando for a hora de enfatizar algo
faça essa coisa acontecer sempre da mesma forma.
Para terminar, se você usa um efeito "emocional" em sua interface,
cuide para usá-lo apenas em casos especiais (quebra de regularidade).
Se usar frequentemente, então a informação não será mais "gravada",
só voltando a sê-lo se, um dia, você *deixar* de usar esse padrão.
Em suma, gravamos mais as coisas que *quebram nossa expectativa*.
Mas esse é só um dos pontos, tem outros relacionados com associação
multisensorial, mas fica para outra mensagem.
Até mais,
Sergio Navega.
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